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Foto: Google Images |
Eu fumo há 26 anos. Nunca fumei demais, jamais cheguei a fumar uma carteira por dia, por exemplo. Mas certamente cheguei a uns dez cigarros por dia. Eventualmente, em época de festejos, passo disso. Fazia tempo que eu queria parar de fumar. Arremedei tentativas várias vezes. Mas é difícil e solitário parar quando há outras pessoas em volta fumando. Resolvi mais uma vez tentar parar, há dois dias, e convidei meu marido para fazer o mesmo. Ele aderiu, acho até que um pouco a contragosto, mas isso está ajudando para que eu me mantenha na linha, pelo menos por enquanto, afinal, desta vez tenho companhia.
Há duas noites não consigo dormir direito. Durmo cinco minutos e acordo, fico mais uns quinze tentando dormir, durmo mais cinco minutos. Minhas pernas doem mais do que o normal, doem os joelhos, as panturrilhas, as canelas, os tornozelos e os pés. Fico procurando posições mais confortáveis e menos doloridas e não encontro. Levanto, tomo um remédio para dor e até um relaxante muscular, deito de novo. O calor parece mais abafado que nunca, mas de vez em quando sinto frio, meu corpo fica gelado (será por causa do ventilador?) e me enrolo no lençol até sentir calor novamente. De manhã cedo, por volta das 5 e meia, estou exausta e acabo dormindo mais pesado. Acordo às 8 e meia assustada. Dormi demais.
Sei que as noites também não têm sido fáceis para o meu marido. Revira-se a noite toda, levanta, deita, levanta outra vez. Algumas das muitas vezes em que eu estive acordada nossos olhares se cruzaram no escuro. Sei que estávamos ambos cansados, incomodados, sofrendo em silêncio, mas, ao mesmo tempo, sendo cúmplices e solidários.
A gente sabe, teoricamente, que parar de consumir uma droga traz efeitos desagradáveis, como insônia, irritabilidade, nervosismo, etc. Mas quando pensamos nisso, geralmente pensamos em drogas pesadas, como o álcool, cocaína, heroína... Esta noite, no meio da minha tentativa de voltar a dormir, fiquei imaginando o sofrimento de quem esteve envolvido com drogas piores que o cigarro comum e que resolveu enfrentar a luta de deixar o vício. Pode parecer estranho o que vou dizer, mas essas são pessoas fortes. Dizem que quem entra no vício é um fraco. Talvez, sim, ou talvez seja apenas alguém que não se dá conta do que está fazendo. Mas quando ele decide enfrentar um tratamento para abandonar o vício, ele tem consciência da decisão que está tomando. E só um forte é capaz de vencer o período crítico de abstinência. Quem supera um vício é um verdadeiro vencedor.
Particularmente, não dou garantias da minha vitória. Não sei quanto tempo sou capaz de aguentar. Neste caso, cada minuto é único. Mas um dia tem 1.440 minutos. São 1.440 unidades únicas e exclusivas de tempo, portanto, impossíveis de prever e ter certeza sobre eles. Espero conseguir. Caso eu não consiga, não me julguem mal e, por favor, me perdoem. Sou apenas normal.