quinta-feira, 19 de maio de 2011

HELLO DOLLY! O HOMEM A MÁQUINA E A CHARRETE!

Por Dorothy Coutinho
 
Vá entender porque as pessoas se apaixonam por outras pessoas ou por tantas outras coisas materiais! Mistérios a serem desvendados.
 
Uma paixão misteriosa é a do homem pelo seu carro. Para ele a sensação de que basta espremer um pequeno acelerador para ter vários cavalos de força sob seu comando é um dos maiores prazeres que o mundo moderno proporciona. Homem e máquina. Uma coisa só. O motor é a sua energia, o sistema elétrico são os seus nervos nem sempre em perfeita sincronia, os pneus são suas garras de tigre devorando as distâncias sem esforço. A gasolina é seu sangue e as prestações a pagar, bem essas são seus vínculos com a realidade e com seus limites humanos.
 
Por vezes a identificação do homem com a máquina vai longe demais. Foi o caso do homem que ao bater o seu carro, mesmo sem ter se machucado passou a sentir as dores do carro. Durante a noite ele gemia como se fosse o carro. Sentia dores no lado, onde a lataria foi amassada, dor no olho que correspondia ao farol quebrado. Acordava de manhã com dores generalizadas no esqueleto que correspondia ao abalo da estrutura do carro. O pior segundo sua mulher, eram as manchas de óleo no lençol. Loucura!
 
Há casos mais graves, segundo depoimentos de vários terapeutas.
- “Me apaixonei por uma Kombi, doutor. Quando estou dentro da Kombi só penso nela. Nas suas formas. No calor do seu estofado. No seu volante roliço em minhas mãos”. - “Meu problema é que minha mulher ainda não sabe, e não sei como contar a ela. Até já sei o que ela vai dizer: - ou a Kombi, ou eu”.
O terapeuta teria dito e perguntado ao homem:
- Você deve pesar bem a situação. De que ano é a sua mulher? Ela carrega qualquer tipo de carga? E suas cadeiras, também são removíveis?
 
 Outro mistério da paixão é a do homem ciumento com a sua máquina.
- Limpando o seu carro de novo? - Só dando um brilho. - Mas às quatro da manhã? - E daí? - Se você me desse uma metade da atenção que dá a esse carro! – Reclama a mulher. - Ora, meu bem, que bobagem, vem aqui. E passa a flanela nas costas da mulher. Sem tirar os olhos do carro.
 
São homens que, de fora dos seus carros fazem todas as concessões em nome da cortesia e da boa convivência. Respeitosos, pacíficos, solícitos – uns pedestres! Mas dentro das suas máquinas, valha-me Nossa Senhora!!!!!
A civilização desaparece e a besta toma conta. Alguns se reportam à legítima defesa. Os culpados são os palermas que querem deter a sua marcha, arranhar seu pára-lama ou roubar sua vaga. Todos inimigos!!!!!!!
É significativo que Sigmund Freud não quis ter um automóvel. Ele sabia de todas essas conotações simbólicas. O bom velhinho preferia uma charrete que estranhamente, chamava de “mamãe”.