Por Bianca Monteiro
Ano passado, quando li pela primeira vez anúncios do Festival Lollapalooza, ignorei assim como faço de primeira com todos os outros shows, como "ah, não tenho dinheiro mesmo, não vai ter minhas bandas favoritas, não tenho motivos pra querer olhar etc etc etc etc". Com esse pré convencimento imbecil, quase perdi uma oportunidade de ouro! Duas das minhas bandas favoritas estavam anunciadas, e uma em cada um dos dois dias do festival. Triste, né? Ter que escolher entre um e outro... Ainda mais sendo Arctic Monkeys e Joan Jett & The Blackhearts. Hoje, acho quase um insulto admitir que cheguei a ficar em dúvida na época. A escolha sempre foi mais que óbvia. Então, depois de muitas lamentações sobre preferir não escolher nenhum, em janeiro, já tinha meu ingresso pro dia 7 de abril.
Joan Jett é minha grande inspiração como pessoa. Na segunda metade dos anos 70, aos 17, fez sucesso em The Runaways, sua primeira banda. Hoje, aos 53 anos, Joan ainda é um grande ícone feminino no rock'n'roll (claro que, pra mim, o principal). Como eu disse, minha escolha era mais que óbvia, eu nunca perderia a primeira vinda dela ao Brasil, já nos 37 anos de carreira. Oportunidade única. Passei meses falando disso, esperando e contando os dias, até que finalmente chegou (e dessa vez, com ingresso, melhor ainda). Depois de ver as fotos do festival na internet, desejei ter ido mais cedo, não pelas atrações dos diversos palcos espalhados no gigantesco Jockey Club, mas pra observar a beleza do lugar e a diversidade de pessoas, aproveitar melhor. Porém, fica difícil quando se tem um grande trânsito pra enfrentar, diversos portões com filas grandes, e não se sabe onde entrar. Cheguei em cima da hora, mas dei sorte: minha entrada deu de cara pro palco Butantã, onde logo ela se apresentaria, pontualmente, às 19h15min. Fiquei a poucos metros dela, do lado esquerdo do palco, e pensei até que estava vazio. Percebi que estava enganada ao ver o vídeo da exibição no Multishow, estava lotado, já que as pessoas que aguardavam o Foo Fighters que entraria às 20h30min no palco Cidade Jardim precisavam de uma distração.
Logo a Joan entrou, com a roupa vermelha brilhante do tipo que usava nas Runaways. As duas primeiras músicas, que eram as mais conhecidas (nas críticas li algo como "numa escolha pouco inteligente", mas julguei proposital, já que sendo amiga do Foo Fighters ela deixaria que o público fosse guardar lugares para o show deles logo após ouví-la um pouco) abriram o show com empolgação, e como todos sabiam as letras de "Bad Reputation" e "Cherry Bomb" (das Runaways), a plateia vibrava em uníssono. Infelizmente, não foi o que houve no restante do show. As pessoas realmente começaram a ir embora, o que foi vantajoso pros fãs que, como eu, puderam chegar mais perto, mas imagino o que eu sentiria se fosse da banda. Na verdade, pensei nisso até demais. Com tantos shows ao mesmo tempo, alguns ficariam sem público, e isso é lamentável. Enfim, a Joan foi muito simpática e engraçada tentando falar algumas frases em português, a que mais me marcou foi o "não seja tímido!", antes de todos cantarem por vários minutos um "yeah, oh yeah, oh yeah" introduzindo o cover de Gary Glitter, "Do You Wanna Touch Me? (Oh Yeah)". Cheia de energia, onde as pessoas viam a mulher de 53 anos, eu via ainda a garotinha de 17... No setlist também estavam presentes "You Drive Me Wild" (também das Runaways), "I Love Rock’n'Roll [vídeo]" (do The Arrows), "Crimson & Clover", seu sucesso "Love Is Pain", "Fake Friends", e duas músicas inéditas (tanto que ela teve que levar uma cola pra lembrar as letras). Como pouquíssimas pessoas conheciam o restante das músicas, senti que a plateia ficou meio parada demais, embora eu nunca fosse capaz de me contagiar com esse clima estando assim tão perto da Joan. Pelo contrário, cantei, gritei, chorei, morri, até cuspi sem querer na menina da frente ao fazer o "ch-ch-ch-ch-ch-ch-ch-cherry bomb", e não parei de pular um segundo (inutilizando minhas filmagens). Sempre existe aquela pontinha de esperança e ilusão que espera que uma hora o ídolo repentinamente te note no meio de uma multidão (literalmente, nesse caso)... E a minha realmente durou até que ela saísse do palco. Se despediu com "I Hate Myself For Lovin' You" com o show já bem vazio, mas retornou ao palco surpreendentemente com "AC/DC", encerrando minha noite da melhor forma possível... E quando ela finalmente deixou o palco, começou a tocar "Sheena Is A Punk Rocker", dos Ramones (conhecida entre meus amigos como a minha música). Achei muita coincidência, e tive que gravar pra mostrar pra eles depois.
Minha noite não acabou por aí, mas, aquele foi o encerramento com chave de ouro. As pessoas, literalmente, corriam até o palco Cidade Jardim, do outro lado do Jockey. O show já começava com "All My Life" e "Times Like These", e como não tinha pressa, sentei na grama com meu tio, atrás das 70 mil pessoas que só foram para ver o Foo Fighters. Mesmo bem longe do palco, considerei o melhor show que já vi na vida, meu tio também. Dave Grohl é engraçadíssimo, e tem um carisma incomparável. Só dava pra ver as macas entrando e saindo do meio da multidão, com fãs desesperadas passando mal, ou até mesmo rapazes carregando suas namoradas desmaiadas nos braços... Isso já demonstrava o clima completamente diferente que as mesmas pessoas do show anterior conseguiram criar, mesmo eu, a quase 300 metros do palco, sentia a multidão calorosa se exaltar com Dave. Suas piadinhas e constantes perguntas do tipo "quanto tempo de show vocês querem? 1 hora tá bom?" só faziam as pessoas gritarem ainda mais. Infelizmente, ele estava rouco, mas mesmo assim conseguia dar conta dos gritos frequentes nas canções, principalmente na minha favorita, "Walk", que na minha concepção foi o melhor momento do show, assim como "My Hero". Teve até uma hora que ele tocou bateria pra lembrar seus velhos tempos no Nirvana... E também tocaram um cover do Pink Floyd, "In The Flesh". Logo em seguida, "Best Of You", tão esperada por mim. Num intervalo, eles saíram do palco, e depois de alguns minutos houve uma transmissão nos telões, com a câmera de visão noturna, deles nos bastidores continuando com a brincadeirinha do "quantas músicas a mais? 2? Tá bom... 3?". Voltaram a todo vapor, e depois de algumas músicas, Dave começou a falar sobre a influência do Jane's Addiction pra banda (o líder Perry Farrel é o criador do festival), e nesse assunto de ícones do rock, anunciou surpreendentemente "Joan fucking Jett". Todos se entreolharam com a aparição da Joan, convidada pra cantar com a banda. Não quis nem saber das 70 mil pessoas e saí correndo entre elas pra chegar perto e vê-la de novo. Depois de ouvir "Bad Reputation[vídeo]" e "I Love Rock'n'Roll" (imagina só que honra cantar suas músicas e ter o Dave Grohl fazendo seu backing vocal!!!!), ela se despediu, eles também, mas com "Everlong", fazendo o Jockey se emocionar.