segunda-feira, 30 de abril de 2012

DIFERENÇAS COTADAS







Por Dade Amorim 

Se as pessoa são corpos sensíveis e se as diferenças individuais resultam de contingências circunstancialmente explicáveis, nada justifica a (ainda) rigidez das castas e classes sociais baseada em poder financeiro ou privilégios em relação aos menos dotados. A única hierarquia possível se sustentaria então em superioridades extrínsecas e acidentais – diferentes graus de instrução, expertises técnicas e profissionais, que podem conferir alguma autoridade funcional a determinadas pessoas. E essa hierarquia não confere a ninguém direitos humanos diferentes dos consagrados e universais. 
Por isso, quando se falou das cotas, a princípio achei que isso só iria reforçar a discriminação injusta baseada nas diferenças raciais que, mesmo absurda, ainda aflige grande parte de nossa sociedade. 
Mas ouvindo a opinião da ministra Cármen Lúcia, acabei concordando com a existência dessas cotas. Diz ela: "As ações afirmativas não são as melhores opções, a melhor opção é uma sociedade com todo mundo livre para ser o que quiser. Isso é um processo, uma etapa, uma necessidade em uma sociedade onde isso não acontece naturalmente."
A ministra tem toda razão. Não se trata simplesmente de "dar uma chance" aos menos privilegiados, mas de tentar corrigir um erro estrutural dessa sociedade, que parece nunca perceber que as diferenças não significam superioridade ou inferioridade, mas apenas diferenças puras e simples, que não tornam ninguém melhor ou pior que os outros. 
Melhor ainda vai ser quando a camada mais pobre da sociedade ganhar oportunidades em pé de igualdade com as classes mais privilegiadas, com acesso a  boas escolas que lhes abram espaço a um futuro mais promissor. O que na certa dispensaria a política das cotas.


Foto Sebastião Salgado