Por Dade Amorim
Se as
pessoa são corpos
sensíveis e se as diferenças individuais resultam de contingências
circunstancialmente explicáveis, nada justifica a (ainda) rigidez das
castas e
classes sociais baseada em poder financeiro ou privilégios em relação
aos menos
dotados. A única hierarquia possível se sustentaria então em
superioridades
extrínsecas e acidentais – diferentes graus de instrução, expertises
técnicas e
profissionais, que podem conferir alguma autoridade funcional a
determinadas
pessoas. E essa hierarquia não confere a ninguém direitos humanos
diferentes dos
consagrados e universais.
Por
isso, quando se falou das cotas, a princípio achei que isso só iria
reforçar a discriminação injusta baseada nas diferenças raciais que,
mesmo absurda, ainda aflige grande parte de nossa sociedade.
Mas
ouvindo a opinião da ministra Cármen Lúcia, acabei concordando com a
existência dessas cotas. Diz ela: "As ações afirmativas não são as
melhores opções, a melhor opção é uma sociedade com todo mundo livre
para ser o que quiser. Isso é um processo, uma etapa, uma necessidade em
uma sociedade onde isso não acontece naturalmente."
A
ministra tem toda razão. Não se trata simplesmente de "dar uma chance"
aos menos privilegiados, mas de tentar corrigir um erro estrutural dessa
sociedade, que parece nunca perceber que as diferenças não significam
superioridade ou inferioridade, mas apenas diferenças puras e simples,
que não tornam ninguém melhor ou pior que os outros.
Melhor
ainda vai ser quando a camada mais pobre da sociedade ganhar
oportunidades em pé de igualdade com as classes mais privilegiadas, com
acesso a boas escolas que lhes abram espaço a um futuro mais promissor.
O que na certa dispensaria a política das cotas.
Foto Sebastião Salgado