Por Ricardos dos Anjos
PAIXÃO
A paixão surgiu como todas as paixões: de repente e com intensidade, que chegou a assustar. Teve seu ponto alto no toque de mãos que durou poucos segundos de Eternidade. E deu pra sentir a pele. Houve um encantamento imediato no entreolhar e um irreconhecível reconhecimento de pessoas há muito (des)conhecidas.
Após a despedida, a frustração de não se ter encontrado motivo para ficar um pouco mais, e assim poder alongar a mútua contemplação do outro, nem articular outras palavras além daquelas (formais) de apresentação e adeus.
DESISTÊNCIA
Sabe, não corro mais atrás do vento. Não corro mais atrás do vento. Aliás, não corro mais atrás de nada, porque o vento e nada são a mesma coisa. Não vejo mais o vento nem o sinto como antigamente. Pensava que via ou sentia e nada sentia quando sentia ou pensava que sentia o vento.
Nada e vento são iguais e por isso não corro mais atrás de nada que é o vento que não venta nem sopra porque é nada. Nem levanto mais a mão pra dar adeus. Não faz sentido esse último ato se não há vento, se não há mais nada que é o vento que é nada. Nada vezes nada é igual a nada que é o vento, que é nada vezes vento igual a nada vezes vozes.
Que vozes, se não há nada vezes nada que é o vento, que é nada, absolutamente sem nada, sem vezes nem vozes? E se não há absolutamente nada que é o vento que é nada, não há vento. E sem vento, só há sufoco, falta de ar.
Bem, paro por aqui por absoluta falta de ar... Arghh!