sábado, 18 de fevereiro de 2012

RIO ANTIGO E A MECÂNICA DAS BORBOLETAS

Por Martha Minghelli





Éramos, inicialmente, dois. Duas pessoas interessadas em assistir a peça “Mecânica das Borboletas”. Ingresso caro e dois duros.
Um dos “duros” conseguiu ingressos gratuitos e fomos convidando outros amigos. Uns medrosos “é carnaval tem bagunça nas ruas; outros cautelosos, o transito estará tumultuado, é sexta de carnaval, tem certeza de que há teatro nestes dias?
Os doidos reuniram-se.

Saímos em grupo de dois para o Rio de Janeiro, fomos cedo, tomando o vento aliviante da Baía da Guanabara.
Chegamos ao Centro Cultural do Banco do Brasil por volta das 17hs 30m, era cedo, o horário da peça era 19hs.
Ao entramos no CCBB uma flecha de acrílico apontando para o segundo andar indicava “exposição de Tarsila Amaral”. Olhamos um por outro e sorrindo perguntamos juntos: É pago? E, respondemos juntos “não sei”.
O mais doido replicou: vamos tentar?
Claro, nos dirigimos ao elevador maravilhoso do CCBB, entramos - 2º andar, por favor, e, com sorrisos marotos perguntamos juntos: é pago?
Claro que não respondeu o cabineiro, um bonito rapaz mulato, com uma linda gargalhada.

Chegamos ao 2° andar e extasiados percorremos, como nossos olhares de FELICIDADE, a beleza de Tarsila.
Rio de Janeiro por Tarsila Amaral

Quadros, desenhos, fotos contando histórias de vida, diários de viagens, uma valise redonda linda, onde ela transportava seus chapéus, tanta cor, tanto brilho, tanta vida, que beleza!

O telefone tocou, onde vocês estão? Era um dos doidos iniciais, venham “velha” tem que ir ao banheiro antes do início e, só temos mais quinze minutos para entrarmos.

Descemos de elevador, de cara, recebemos, todos, colares havaianos dourados e, eu, a velha do xixi, fui ao banheiro, pois alem do xixi tive que colocar uma cartola minúscula roxa, com tule e penas lilás, terminando em contas roxas pendentes da cartola, em minha cabeça. Fiquei linda!

Entramos, fileira F assentos 08,10,12,14, e do lado oposto, na mesma fileira F assentos 1, 2, 4, e 6, éramos oito. Teatro lotado, platéia atenta sem tumulto, batíamos palmas, sorríamos e emudecíamos vibrando no mesmo diapasão. Que Belo!

Às 21hs45m saímos do CCBB pela Av. Presidente Vargas e em êxtase percorremos as ruas do Rio Antigo, estreitas, lindas, iluminadas.
Bares e lanchonetes com gente como nós, conversando, comendo, bebendo, vivendo o prazer da segurança emocional.
Tudo calmo, tudo lindo, passamos por ruas onde, outrora, moraram Carmen Miranda, Chiquinha Gonzaga, sobrados, casas, lares, vida de bem com a vida.
Tudo sereno. Na Praça Quinze, embaixo da perimetral, adolescentes brincavam com seus skates, saltos, risos, gritos de: “consegui” – VIDA!

Um dois doidos, respondeu também consegui. O que você conseguiu sua doida? Ficar feliz, respondi sorrindo e todos correram até a barca que nos traria de volta para Niterói, antes compramos dois pacote de pão de queijo e quatro refrigerantes para dividirmos.

Sentamos separados, eu e meu amigo de ida, sentamos lado a lado, na terceira fileira antes de nós, um senhor vomitava discretamente e depois dormiu.

A barca chegou, saímos e, perto da imagem de Araribóia, nos abraçamos, nos beijamos nos despedimos.

Até a próxima peça teatral, até outra noite. De alma lavada, igualzinha aos outros sete, retornamos em PAZ, aos nosso lares, agradecendo a vida pela bela amizade que nos une.

CCBB RIO