Querida Bela,
1) Hoje você faz o quê? Ainda edita o telejornal? Se sim, qual a sua função?
Tudo bem?
Ainda lembro de quando eu ficava trabalhando até quase o amanhecer na edição de algum audiolivro para a plug-me e trocávamos uma palavra ou outra por meio do skype, enquanto você editava o último telejornal. Apesar de muita pauleira, tenho saudade desse tempo, Bela.
1) Hoje você faz o quê? Ainda edita o telejornal? Se sim, qual a sua função?
Lembro também quando a Dilma Rousseff ganhou, e você me mandou um sms dizendo "é nóis na fita, mano". Como é que você sabia que eu torcia pela Dilma se nunca comentei isso? E como choramos no telefonema que nos demos em seguida - emocionadas - pelo feito histórico da chegada da primeira mulher à Presidência da República.
2) Como é o seu trabalho de escolha de notícias, de edição mesmo? Quais os critérios usados?
3) Quando eu te mandei o primeiro e-mail, solicitando a entrevista, você estava viajando. Foi
com os filhos? Como foi de férias?
4) Bela, como é que é a sua vida aí em Brasília? Você é daí mesmo?
5) Como é a sua convivência com o poder? Fale um pouco sobre a sua vida, a sua formação... e, claro, não esqueça de mencionar o seu nome completo.
Beijos,
Esther
Por Bela Braga
Vista noturna de Brasília Foto: Google Images |
Meu nome todo é Gabriela Braga Santos. Tenho 39 anos. Sou jornalista por desempenho da profissão. Cozinheira e mãe, por talento. Namorada, por amor. Amiga, pelo mesmo motivo. Produtora cultural, por teimosia. Brasiliense, de nascença. Brasileira sem salvação. Amém.
Também tenho saudade dos tempos que a gente podia se falar na madrugada, Esther querida.
Mas não tenho muita saudade de entrar a madrugada fazendo edição do Clipping. Era isso que eu fazia, o Clippin da Presidência. A equipe era enorme e os turnos se sucediam, no stop.
Bastante corrido e não me dava espaço pra criar. Com o tempo, vai ficando bem aborrecido, esse tipo de trabalho, né?
Hoje eu faço a produção de jornalismo da TV Brasil. Antes disso, há muito pouco tempo, tínhamos criado um núcleo maravilhoso, de expertise em Multimídia e Interatividade. Uma delícia. Gente nova, cheia de habilidades inacreditáveis, criativos. Mas a empresa não compreendeu o cotidiano de uma equipe multidisciplinar, embora premiada com Herzogs e que tais, que contava com jornalistas, técnicos altamente capacitados, designers, programadores, flasheiros. Na verdade, não deram conta de entender "como" as coisas aconteciam dentro dessa equipe. Não entendiam prazos de programação, pedidos de máquinas, de treinamento constante, o que diabos era renderizar (essas coisas técnicas que a gente traduz, mas o jornalismo tradicional tem uma dificuldade ENORME de entender). E acabaram com a equipe às vésperas das últimas Eleições... Veja bem...
Meu dream team foi pulverizado, caindo em áreas onde podiam ser minimamente aproveitados. Eu?
Bom, imediatamente, fui absorvida pela redação da TV. Os nossos telejornais brigam cotidianamente pra fazer um jornalismo diferenciado, público, transparente, sem tendência comercial que o determine. É uma briga boa. Eu gosto. Então tou aqui.
O critério usado para a escolha das matérias é muito "abstrato", para não dizer outra coisa. As reuniões de pauta costumam se estender e levantar discussões acaloradas. Mas, de grosso modo, a linha mestra é o interesse do cidadão. A gente tenta traduzir a realidade, as questões mais complicadas, os projetos inovadores, os acontecimentos políticos, econômicos, internacionais, culturais... pro nosso cliente maior, o povo.
Não é muito fácil tentar convencer quem se viciou com a linha Rede Globo, a fazer um jornal direcionado ao público, sem paixões políticas, sem tendências comerciais limitantes. Não é, não. Mas é uma de-lí-ci-a, preciso confessar.
Bom temos gente gabaritada trabalhando aqui: Tereza Cruvinel, Nereide Beirão, Tércio Luz, Lúcia Fernandes, Antonieta Goulart... muita gente profissonalmente muito bem preparada, com experiência de jornalismo inconteste.
É uma boa convivência, para mim, pessoal e profissionalmente. Confesso que me impressiono, ainda e sempre, com o modus operandi dessa gente. Não concebo a falta de delicadeza, de educação, de respeito, de reverência ao outro. E uma redação sabe ser tosca quando o incêndio pega!
Eu não me acostumo. Não adianta. Um dos meus deveres, eu entendo, é tentar manter a suavidade, a sanidade e o bom tom nesse ambiente... E tentar fazê-los ter menos medo e mais intimidade com a tecnologia - que ou vc usa a seu favor...Ou tá lascado, né?
Barra Grande Foto: portaljericoacoara.com.br |
Minha vida em Brasília é maravilhosa. Não posso reclamar. Moro pertíssimo do trabalho e da escola dos filhos. Meu apê tem um varandão e por ser no 1º andar, parece que estou numa casa, cercada de belas árvores e passarinhos. Tenho Gaia, minha cã-raposinha, e meu Sushi, meu gato vira-lata. Meus dois filhos são criaturas do bem e dulcíssimos - pelo que agradeço de joelhos!
Namorado é músico, violeiro de mão cheia. Meus pais moram pertinho, meus avós, tios e primos, sobrinhos e meu irmão. Só minha irmã foi pra longe, pero mo mucho. Mora no Rio pq a carreira de cantora não tem jeito aqui (depois dá uma olhadinha na moça linda que canta divinamente: Joana Duáh - olha o jabáááá´!).
Trabalho numa empresa que acredito (decididamente sou uma jornalista de jornalismo público). Minha relação com o poder é de trabalho. Não me encanto e não me seduz (muito pelo contrário). A cidade respira isso, embora eu viva à procura do Lado B.
Lago Paranoá, Brasília Foto: Miguel Netto |
Usufruo de uma vida de cidade grande, numa cidade relativamente pequena. Adoro a miscelânea de cores, sotaques e sabores. Vou à Feira do Guará, como comida nordestina, Na torre, tomo tacacá. Como um churrasco dos Pampas, tomo um café mineiro, danço um afoxé. Na vertente cidade grande, vou a Festas modernézimas de eletrônico, consumo as melhores iguarias do mundo: vinhos, suhis, bouefs bourguignones, ceviches, pizzas, feijoadas, dobradinhas, risotos, tabules, bifes à cavalo. Grandes livrarias, festivais de cinema, teatro e música. Grandes museus! Lojas do mundo todo! E em casa, o silêncio e a paz. Num posso querer mais.
Sempre que posso corro pra minha praia, a Chapada dos Veadeiros. Só indo lá pra ver... É indescritível a força que tem aquele lugar. É meu santuário, meu tempo, aonde me conecto com a espiritualidade, me humanizo, ma animalizo, me reconheço e volto pequenininha e humilde pra casa. Feliz da vida!
Chapada dos Veadeiros Foto: vilaboadegoias.com.br |
Quero que eles entendam cada uma das nossas conquistas e tenham o peso certo do que precisa ser corrigido, transformado. Não quero playboizinhos alienados...e faço esse trabalho de base, com eles e com os amigos... sempre tem um pra trazer o tititi de Veja pra dentro de casa, né?
Vitória de Dilma Rousseff Foto: blog.opovo.com.br |