Chegada de avião ao Rio, que completa hoje, 446 anos |
Há 17 anos eu moro em Caxambu, Minas Gerais, onde tem aeroporto mas nenhum avião comercial. Então vou de carro para o Rio. Desço a Serra das Araras e logo depois entro na Baixada Fluminense para pegar a Linha Vermelha. Pego, aliás, antes, um congestionamento infernal de uma obra eterna que ocorre na altura da Baixada; depois, na Linha Vermelha, recebo todo mau odor dos dejetos jogados naquele fim de praia. Vou até Copacabana onde as ruas cheiram a urina até conseguir respirar ares mais sociáveis em Ipanema, Barra (da Tijuca) e Recreio.
O Rio do qual eu sentia saudade não existe mais para mim.
O perfume, o cheiro da maresia, do sal secando na roupa, o corpo agradavelmente ardido, um mar sem água viva morta, sem algas despedaças, sem detritos boiando, este mar reside na minha lembrança na música de Tom Jobim.
Hoje quando eu estou no Rio, sinto saudades de um trecho da estrada que liga Caxambu a Aiuruoca (MG), onde há uma seta apontando em direção a um local onde nunca estive, e certamente nunca irei, porque quero guardar a impressão de quando chegar lá encontrarei tia Zulmira e o primo Altamirando, personagens criados por Stanislaw Ponte Preta.
Hoje o Rio faz 446 anos, e a síntese da cidade para mim é essa música de Caetano veloso – O nome da cidade – assim como a memória da cidade para mim se reduz na Boca do Mato entre Caxambu e Aiuruoca, onde pressinto que também está o mar da minha saudade.