sexta-feira, 25 de março de 2011

VOCÊ CONHECE ESSE CARA? JÁ CURTIU ESSE SOM?

Por Ana Laura Diniz

Foto: Google Images
Zapatista dionisíaco, ex-punk, neto de velho militante antifranquista espanhol, filho de um conhecido escritor espanhol, parisiense atípico - sem muito orgulho, deixou o local porque não se acostumava ao tratamento dispensado aos clandestinos africanos na capital francesa. Divertido, gozador e sério ao mesmo tempo, precisava de um lugar mais calmo para morar. Escolheu Barcelona porque acredita ser o Rio de Janeiro da Europa. Magro, ágil e bom de caminhada, quando no Brasil, faz passeios incansáveis pelas praças e ruelas da Lapa, no Rio de Janeiro, onde já viveu um mês no burburinho de Santa Tereza. Dono de um molejo sedutor, fã ardoroso de capoeira e de repentes nordestinos, bebe cachaça misturado com café amargo a qualquer hora do dia. Foi assim que o conheci num boteco carioca - com calça de algodão, regata e de “as legítimas” no pé. Também gosta de tomar tequila na Bastilha e aguardente de uva na Galícia.

Foto: Google Images
Falando assim, talvez pareça ser este, um retrato meio esquizofrênico de um jovem. Mas ele é tudo, menos esquizofrênico. Aos 50 anos, sabe exatamente o que quer e aonde deseja chegar. Sua produção babélica mistura francês, espanhol, português, inglês e narrações de jogos de futebol. Com versos soltos e espontâneos, ainda que cuidadosamente trabalhados, rompeu fronteiras na Europa, Estados Unidos e América do Sul. É capaz de numa só frase rimar calefación (calefação, em espanhol) com satisfaction (satisfação, em inglês). 

No entanto, seu anarquismo não esconde uma enorme consistência política. Convencido de que as ditaduras foram substituídas no poder dos Estados pelo crime organizado, acredita que a xenofobia cria uma bomba de efeito retardado - uma vez que as periferias das grandes cidades estão ocupadas por imigrantes, que vivem em condições subumanas. Mas tenta separar seu engajamento da música. Sabe que é complicado. E por isso, sempre pensa seriamente em deixar de cantar. Tem medo de se tornar um “fantoche” governamental.

Foto: Cluas.com
Desprendido e batalhador, ganhava dinheiro em apresentações em bares, ruas e estações de metrô. Ex-líder dos grupos Mano Negra e Radio Bemba, há mais de onze anos segue uma brilhante carreira solo. Dos álbuns, os meus favoritos são os dois primeiros, Clandestino e Próxima Estación: Esperanza, feitos sob a mesma base: sonoridades simples e infantis, que são facilmente memorizadas. 

Foto: Blog Doomar

Tendo o contrato dele expirado com o selo Virgin, em 2003, Radio Bemba virou o nome de sua própria produtora. E com ela, lançou em setembro de 2004, um CD single com seis canções, acompanhado de um livro de poemas ilustrado pelo desenhista Wozniak. Vendidos em bancas de jornal francesas, o kit precedeu a edição da versão completa do seu CD, Sibérie m‘était contée, de 23 músicas, lançado junto de um livro mais volumoso que, infelizmente, não chegou a ser vendido no Brasil. 

Em 2005, gravou a música Soledad Cidadão, numa participação especial para a banda brasileira Os Paralamas do Sucesso. E no embalo, gravou o tema do filme "Princesas", Me Llaman Calle. O ano de 2007 foi embalado por mais dois CDs, o La radiolina e o Rainin in Paradize EP... fazendo "parada" em 2008 no Estación Mexico.

A base musical é a mesma: sensacional, e seus refrões, repetidos incessantemente, mesclados a excelentes arranjos, sempre tocam o ponto certo. E se você ainda não sabe de quem se trata, corra. Seu primeiro DVD, Babylonia em Guagua, lançado em 2003, é praticamente ainda uma novidade. E justamente no momento em que os valores culturais do País andam invertidos - e todos trabalham numa espécie de sobrevida -, é bom saber que Manu Chao firma presença para temperar ainda mais a salada musical brasileira. 

discografia completa
  • Manu Chao - Clandestino (1998)
  • Manu Chao & Tonino Carotone - Radio Popolare (1999)
  • Manu Chao - Próxima Estación: Esperanza (2001)
  • Manu Chao - Radio Bemba Sound System (Live Àlbum) (2002)
  • Manu Chao – Acústico (2003)
  • Manu Chao - Siberie M'etait Contéee (2004)
  • Manu Chao - La Radiolina (2007)
  • Manu Chao - Rainin in Paradize EP (2007)
  • Manu Chao - Estación Mexico (2008)

Manu Chao: "Clandestino", música que leva o nome do álbum, foi gravada no Brasil pela cantora Adriana Calcanhotto, no CD "Público".


"Clandestino", com Adriana Calcanhotto