terça-feira, 8 de março de 2011

RECEITA DE MULHER

Por Esther Lucio Bittencourt

BB
Primeiro pegue um paraíso. Deixe correr cachoeiras, riachos, é preciso que muitas flores brotem e que a voz de Deus, geralmente tonitruante, se torne delicada.

Pegue então uma porção de barro, amasse com as mãos, leve-o até a altura da boca sagrada de Deus, e espere que ele assopre.

Após o sopro divino, repare como há vida na criatura: é um homem.

Pegue uma faca bem afiada e que tenha serra. Aproveite o cochilo deste homem, rasgue suas entranhas e retire-lhe uma costela.

Puft. E assim surge a mulher.

Por ser costela, foi comida. Por ser osso, é dura de roer. Por ser uma parte, não consegue sua completude. Por ser sobra, tem complexo de inferioridade. Não a leve ao forno, nem ao fogo brando.
BB

É um objeto para ser olhado e feito para servir, segundo as tradições e as culturas ocidentais e orientais.


Mas use-a com cuidado, porque tem caroço. Apesar de ter sido criada por um ente virtual, ela é real.