sábado, 20 de agosto de 2011

84, CHARING CROSS, Charles Baudelaire e suas viagens



                                                   Charles Baudelaire(google)




Existem mil formas de viajar. De navio, de trem, de avião, na droga, o que inclui remédios tarja preta, nos livros e na música. etc...
Baudelaire, poeta Charles, comentava em seu livro "Paraísos Artificiais" sobre a mania do pensador, poeta, novelista e jornalista Theophile de Gautier viajar no ópio e no haxixe para escrever. Comentava à nível do maldizer, enquanto ele, Baudelaire, também as consumia.


A obra teria sido influenciada por Thomas de Quincey, em seu livro de 1822, Memórias de um comedor de Ópio".
Em "Paraísos Artificiais", Baudelaire narra suas experiências enquanto usava drogas. Escreve também em Intimate Journal um tipo de jornal/poema " Mon Coeur Mis à nu" onde confabula sobre vários assuntos, política, mulheres, prazer, fortuna e muito mais.
"Mon coeur mis à nu fait partie des journaux intimes de Baudelaire, comme les trois autres recueils de notes : Fusées,Hygiène, et Carnet (seul ce dernier répondant à la définition classique du journal intime, en particulier par sa composition chronologique)."
La publication fut posthume, en 1887. (Carta de Charles Baudelaire a sua mãe em primeiro de abril de 1861): Meu coração posto à nú, faz parte dos jornais íntimos de Baudelaire, assim como três outras anotações recolhidas nos livros : Fusées, Hygiène e Carnet ( e que correspondem a esta definição por sua composição cronológica. Publicação póstuma." (se a tradução estiver incorreta podem reclamar comigo.)


Neste livro , como em todos os outros, ele viaja e viaja. E a que mais me fascina é a do poema "L'invitation au voyage" / "O convite à viagem": trad. de Ivan Junqueira


Mon enfant, ma soeur,
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble!
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble!
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.


Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.


Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.


Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.


Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
— Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.


Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.


O convite à viagem


Minha doce irmã,
Pensa na manhã
Em que iremos, numa viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis orvalhados
Desses céus nublados
Para mim guardam o encanto
Misterioso e cruel
De teu olho infiel
Brilhando através do pranto.


Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.


Os móveis polidos,
Pelos tempos idos,
Decorariam o ambiente;
As mais raras flores
Misturando odores
A um âmbar fluido e envolvente,
Tetos inauditos,
Cristais infinitos,
Toda uma pompa oriental,
Tudo aí à alma
Falaria em calma
Seu doce idioma natal.


Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.


Vê sobre os canais
Dormir junto aos cais
Barcos de humor vagabundo;
É para atender
Teu menor prazer
Que eles vêm do fim do mundo.
- Os sangüíneos poentes
Banham as vertentes,
Os canis, toda a cidade,
E em seu ouro os tece;
O mundo adormece
Na tépida luz que o invade.


Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.


Convite à viagem, cantado por Léo Ferré



Ao ler ou ouvir este poema sinto-me nos canais de Veneza ou até mesmo no ribeirão da Glória, que corre atr[as cá de casa,e que est[a quase seco porque n'ao chove, num langor profundo, semi adormecida com volúpia vagabunda deitada no fundo de um barco que vaga ao sabor das águas.




Baudelaire - L'Invitation au Voyage récité par Pierre Bohé



Dito por Adriaan Blomme com Música de Parelvissers.



O que mais gosto é este com Jessie Norman
Soprano: Jessye Norman
Piano: Elisabeth Cooper
Musica: Henri Duparc (1848-1933)



Por sua vez, Aldous Huxley em seu livro “As Portas da Perecepção. O Céu e o Inferno” detalha suas experiências alucinatórias de quando usou mescalina. O título do livro vem citação do poeta William Blake:"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite." "Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito." Ent'ao ele afirma que o ser humano filtra suas experiências com a realidade o que o uso da droga elimina, pelo contrário, amplia.


Noutro dia, na mesa do Bar Avenida, Fernando, Garcia, Angela e eu conversávamos sobre experiências com LSD, ácido ligérgico. Garcia e Angela fizarem umas tantas viagens ao nordeste do Brasil, durante a décade de 70/80, época do flower and Power, usando LSD e contaram da ampliação da percepção que, no entanto, não prejudicava a encontrar os caminhos a serem seguidos.

Para eles esta viagem vem cheia de boas recordações. Eu, desejei experimentar também. O medo grande pedi auxilia de um analista que freqüentava e ele permitiu que eu fizesse três viagens das quais trago uma triste lembrança. A percepção realmente foi aumentada, mas meus fantasmas interiores- havia saído da prisão política havia pouco tempo- eram tão intensos que delas  só lembro de uma cena mais amena: eu estava dentro de uma taça de tamanho desproporcional, que subia acima das nuvens, fina, transparente, profundamente frágil, comigo encolhida num canto, em posição fetal e, em volta da taça o reflexo era de um vermelho intenso. Os sons eram aterradores, o ar queimava meu rosto, ainda bem que surgindo do meio do nada, minha avó paterna sentou-se a meu lado, de cenho franzido, mas disposta a esperar que eu retornasse ao normal. Durante um tempo o mundo ganhou dimensão ampliada, os ruídos possuíam cores e doíam. As cores eram saturadas e as vozes, ah, as vozes, soavam como trombetas em meus ouvidos.
Até pensei: será que os profetas que a Bíblia nos narra usavem de algum alucinógeno para que pudessem ver Deus? Creio que sim.