quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PINDORAMA 10° 0' 0" S / 55° 0' 0" W , OS CHEIROS DAS ESTRADAS DE MINAS E SÃO PAULO

Por Esther Lucio Bittencourt


Vamos todos os fins de semana para São Paulo, pela Fernão Dias. Há doença na família e a presença é fundamental.

Saímos de Caxambu, precisamente do Vale das Colinas, onde é nossa casa, passamos por Contendas e Conceição do Rio Verde, - onde sempre havia uma plantação de girassóis, utilizados para biodisel, e que este ano não deu o ar da graça - pegamos Lambari, Heliodora e saímos na Br 381, a Fernão Dias. Levamos sempre outra passageira; a Fernanda, um Tomtom (GPS) de ajuda inestimável e que se perde ao chegar em Lambari e somente se encontra na Fernão. E a música: neste final de semana foram conosco a Ceumar e Dame Kiri te Knawa, que cantou músicas de Jerome Kern .





É época da colheita de café, ou melhor, da secagem dos grãos e dos Ipês floridos que salpicam o azul do céu de amarelo.

O que mais me impressiona neste caminho, no entanto, são os cheiros.

As casas que desfilam na estrada são singelas. Raro se vê um casarão, as sedes das fazendas. São pequenos agricultores, na maior parte das vezes, que em seus terreiros cimentados deixam secar os grãos do café. Das chaminés das casas a fumaça branca denuncia o cheiro do café torrado, moído e coado. Como sinto vontade de dizer: “dias, vizinha, vim provar do seu café!”. Mas os terreiros se sucedem às plantações de café e o pasto seco muitas vezes queimado por alguma binga de cigarro jogada irresponsavelmente pela janela dos carros. Vacas magras pastam preguiçosamente antes do sol queimar, pois as gotas de orvalho amaciam até o capim seco.

Não sei se nossos olhos perseguem a estrada que exibe seus alpendres anchos de moça vaidosa, uma casa em construção, um lago que brilha na paisagem, ou o asfalto segue o carro com seu piche bem espalhado, negro querendo ser azul. Vez em quando um canto de passarinho, na gaiola, ficou lá atrás mas ainda ressoa nos ouvidos.

Aqui no Sul de Minas, vivemos um clima de deserto: manhãs e noites frias para onze horas de sol ardido e quente até às 16h. Virou até moda perguntar um para outro, aqui virou deserto? Mas é muita água esparramada no chão a contestar esta dúvida.

Em Extrema, última cidade mineira, deixamos para trás as serras azuis da Mantiqueira. Espere, ainda não. Em Bragança Paulista elas ainda estão fechando o horizonte. E outras cidades se aventuram nestas estradas, até que avistarmos de longe a fímbria poluída onde termina o céu de São Paulo.

Já neste caminho o cheiro é de morangos. Tempo deles e, durante toda a estrada estão exibidos em estantes e pode se ver, lá longe, as plantações cobertas de plástico, protegida das chuvas e geadas.

O Brasil é de uma dicotomia de cores, cheiros e prazeres impressionante. Da vaca pastando e do odor do café, passando pelo perfume do morango chagamos ao dióxido de carbono do trânsito da maior cidade do Brasil em agitação: São Paulo, a que nunca respira, esta é a minha impressão. Onde o sangue que corre nas veias dos habitantes tem fuligem e o cheiro pegajoso dos caminhões fumacentos que peidam na estrada seu diesel queimado.

Após passar o Município de Monte Verde e Atibaia, com chácaras grandes e casas trabalhadas, após a Apa da Serra da Cantareira, o verde some de nossos olhos. São carros e prédios a desenhar outra estética, a urbana; de pressa, aflição e estresse.

Até a volta para Caxambu quando a paisagem se repete e o retorno, de novo, para São Paulo, onde os olhos acostumados com o enredo já sabem em que ponto da estrada repousar.

Ipê no Cafezal

Lago e montanhas












     

Mais um lago



Casa na estrada

 Plantação de morangos, lá longe
 Céu de Sampa