sexta-feira, 26 de agosto de 2011

PRIMEIRA FONTE ENTREVISTA: MARIA ALICE MILLER, DESIGNER DE INTERIORES

Maria Alice Miller é designer de interiores, administradora, artesã. Entusiasta do belo, do simples, do sustentável e da acessibilidade, assina o blog Casa com Design desde 2004.

P.F.: Maria Alice, eu tenho a impressão que hoje em dia o design de interiores está na moda; há muitas revistas e blogs sobre design e decoração feitas por e para gente com muitas idéias e orçamento pequeno, desmistificando a figura do designer de interiores/decorador/arquiteto, renovando o seu público. É isso mesmo?

Sim, é verdade: a mídia tem se esforçado para mostrar que o design de interiores é acessível a todos os públicos. Diversas revistas mostram como decorar um ambiente com truques, peças e adornos de preço baixo e ótimo efeito. Só acho que as pessoas ainda não entenderam bem este movimento: o famoso "Do It Yourself - DIY" dos americanos ("faça você mesmo") é uma forma de você mesmo fazer algo bacana para sua casa, mas o design de interiores de verdade, que envolve avaliação de como uma planta de um imóvel pode ser melhorada para quem o ocupa, além do arranjo físico interno (layout) do mobiliário, só é feito com a análise de um profissional. Design de interiores não é decoração, e esta é uma grande confusão que a mídia também faz. Tornar um ambiente mais bonito também passa por retirar móveis e adornos, repensar os espaços e adaptá-los à necessidades de quem ali reside.

P.F: Dentro deste boom do design, vejo também que a acessabilidade é um aspecto muito discutido. Se cabe aos governos o cuidado para que cadeirantes, cegos e pessoas com outras necessidades tenham uma cidade acessível, dentro de casa a realidade é outra. Como podemos saber se a casa está apropriada, por exemplo, para as necessidades de um idoso?

Esta avaliação passa pelas características de cada um. Um idoso geralmente tem maior dificuldade de se locomover, ou se movimenta mais lentamente. Uma das primeiras coisas a observar portanto são os pisos: devem ser antiderrapantes e não possuir tapetes soltos. Às vezes, nenhum tapete é o melhor. No box, onde o piso fica molhado, deve haver apoios - que não necessariamente precisam ser as famosas barras de apoio - e o acesso às toalhas deve ser fácil. Uma outra coisa que muitos esquecem é a altura dos itens de uma casa: tanto armários altos quanto muito baixos, precisam ser evitados. Tudo deve estar na altura que faça com que o idoso não precise pegar uma escada ou abaixar-se completamente para pegar algo. Outro cuidado é com a iluminação: à noite, é bom haver alguma luz fraca para que ele se movimente entre o quarto e o banheiro, por exemplo. Se não for possível, os interruptores devem estar próximos à cama. Campainhas ou telefones junto à cama e no banheiro também são uma ótima ideia.


P.F.: Juntando o útil ao agradável, é possível ter uma casa acessível às necessidades dos seus moradores e com um visual interessante? A obra para a adaptação de uma residência não teria um orçamento muito alto para seus moradores?

Claro que sim! Há inúmeros projetos de interiores belíssimos e criados de forma totalmente acessível. Medidas simples como possuir portas mais largas - 70 centímetros é o mínimo recomendado - instalar os interruptores e tomadas em alturas mais confortáveis, criar iluminação indireta (ou sensores de presença) que estejam sempre disponíveis, utilizar revestimentos adequados e rampas em lugar de pequenas escadas, são medidas que se pode tomar durante a construção ou reforma de uma casa que custam o mesmo do que projetar de qualquer maneira. Muita gente pensa na "casa dos sonhos" para suas necessidades hoje, mas esquece que, se pretende morar ali para sempre, ela deve ser projetada para seu futuro também.


P.F.: Quais seriam, então, as principais mudanças dentro de casa para garantir, não só a segurança de quem mora nela, como barras de apoio no chuveiro para evitar quedas, mas também para facilitar a vida de quem tem necessidades especiais?

Como os idosos, os portadores de necessidades especiais devem ser avaliados caso a caso. Mas algumas medidas como armários mais baixos, espaços de circulação adequados (de novo, 70 centímetros é o mínimo indicado), interruptores e tomadas à meia altura, espelhos inclinados (ou instalados em sua altura) para que possam se enxergar facilmente, bancadas de banheiro e cozinha onde uma cadeira possa ser utilizada (sem armários por baixo), instaladas em altura adequada, e também com profundidade a seu alcance, cuidados com ventilação e iluminação natural (janelas que possam ser facilmente abertas e fechadas e que iluminem bem um ambiente), cabideiros que se movimentam possibilitando alcançar as roupas que ficam nas partes altas dos armários, móveis com rodízios, corrimãos de qualidade em escadas internas (caso de edifícios) e muitos outros pequenos cuidados podem ser pensados para a casa de quem precisa de tudo fácil. Esta seleção é feita por bons profissionais quando projetam uma nova casa, pensando no que chamamos de design universal: o espaço deve estar acessível a todos pois, você pode estar projetando para recém casados que, com o tempo, podem se mudar e passar a casa para um casal idoso, por exemplo. Ter em mente que a casa deve se adaptar às pessoas e não o contrário é essencial.




Maria Alice Miller
Casa com Design
malice@casacomdesign.com.br