quarta-feira, 31 de agosto de 2011

MINHA PRIMEIRA VEZ NO MARACANÃ

Telinha Cavalcanti


Com toda essa história de reforma, Copa do Mundo, fica pronto, não fica pronto, lembrei deste texto que escrevi em 1999 :)



Náutico e Fluminense no Maracanã. Já no caminho foi dando um negócio no estômago.
Ao meu lado, Fred se transformou no Torcedor. Muito calado, segurou minha mão e eu só podia imaginar o que vinha pela frente.
A chegada ao estádio parecia um show de rock: gente, muita gente, mais gente e camelôs vendendo de tudo, só que no show todo mundo torce para um time só. Lá, eu era uma alvi-rubra no meio de torcedores adversários.
Os ingressos foram caros, o que eu não entendi. Não vi o estádio em sua glória, estava parcialmente interditado, sem acesso às arquibancadas e com uma parte das cadeiras liberada.
Mesmo com tanta restrição, o Maracanã impressionou. Tem aquela mitologia, e mesmo em reforma ele era bonito, grandioso (até durante o jogo dava para ouvir barulho de operário trabalhando).
Chegamos nas cadeiras: fila grande, torcedores baruhentos, crianças com o uniforme do Flu, elevador. Quando nos sentamos, o jogo já havia começado.Meu walkman só pegava estática e um programa religioso. Eu e Fred mais adivinhamos do que vimos o jogo: percebia-se qual time atacava e qual defendia, mas os detalhes só deus sabe.
A torcida reagindo ao jogo é impressionante. De repente todo mundo gritou ao mesmo tempo a mesma coisa, e não deu para ver onde começou. E olha que não era um jogo de estádio lotado, quando chega a tremer a arquibancada com a torcida se manifestando. Cantaram "A bênção, João de Deus", o hino do Papa. Eu não entendi nada, penso que algum jogador chamado João fez uma boa jogada. Em casa, Fred explicou que é tradição da torcida tricolor cantar esse hino e por isso é chamada de torcida de Deus.
De repente, gol do Fluminense e todo mundo fica desvairado. Eu, alvi-rubra e sofredora por definição, só mexi os olhos. Falei baixinho, para mim mesma, vai empatar. Fred gritava, agitava as mãos, batia palmas. Mulheres beijavam os namorados, crianças agitavam bandeiras, homens xingavam. De repente, acabou o primeiro tempo. O placar não dava o tempo de jogo, e por um instante, quando tudo parou, a gente não entendeu por que.
Intervalo.
Os vendedores de refrigerante, água, mate, pipoca e cachorro quente, que já andavam prá cima e prá baixo durante o jogo, fizeram a festa. Observei todo mundo comentando o jogo e falando mal do juiz. Atrás de mim um rapaz falava: tá um a zero, tá bom, pode acabar agora!
Segundo tempo: o Fluminense entrou em campo, todo mundo cantando o hino do clube. Então veio o Náutico, confusão na área, fui ver, era gol. Silêncio e uma rede balançando. Eu mordi a boca, que não sou doida de gritar no meio da torcida inimiga. Não se via uma bandeira do Náutico sequer. 1 a 1. O clima ao redor é outro. Os jogadores, pequenininhos, o campo, imenso e o povo irritado, querendo raça. Para eles, o juiz é paulista e roubava todas as faltas para o adversário. Pênalti para o Fluminense, alegria no Maracanã.
Eu parei de observar e comecei a torcer, quieta, para o jogador errar o gol. A torcida gritava incentivando, é uma coisa. Futebol no estádio é uma emoção danada, infinitamente melhor do que ver em casa. No estádio a gente faz parte. Na frente da tv só dá para assistir. Gooooooooooool do Fluminense. Lá em baixo, a geral dançava de alegria. Eu insistia, bem baixinho: vai empatar, vai empatar. O meu time perdeu um gol e mais outro. Tentava disfarçar, mas o sorriso aparecia, vai, mostra para eles, empata esse jogo, vira esse placar, fiquei rezando. Apertei a mão de Fred, ele riu e me abraçou. O Fluminense perdeu chances de gol. Um gol tão fácil que a torcida se irritaou, começando de novo a xingação. Por todo lado gente agoniada gritava acaba, acaba. Futebol no estádio é assim: não tire o olho do campo que não tem replay. Você se distrai e já era. Pois é, já era: o juiz apita, acabou o jogo. Todo mundo vibrava com a vitória.
Dessa vez a gente desceu pela escada, que a fila do elevador tá muito grande. Saímos cercados por comentaristas e técnicos, que gritavam suas opiniões sobre o jogo. Na saída, chovia muito. Fred estava feliz da vida.
Eu adorei ver jogo no estádio, e disse que na próxima vez a gente vai torcer pelo mesmo time, para eu poder gritar também.